10 janeiro 2013

Percy Lau

 
Os bicos de pena desse ilustrador marcaram minha infância e, sem dúvida, tiveram forte influência na minha formação de desenhista. Foi através da Revista Brasileira de Geografia, do IBGE, que, pela primeira vez, vi suas ilustrações para a série Tipos e Aspectos do Brasil. Pela sua visão antropológica da sociedade da época, logo associei seu trabalho aos de Debret e Rugendas, que já conhecia pelas aulas de História, ainda no primário (o fundamental de hoje) e que copiava para ilustrar os trabalhos escolares. A diferença estava na técnica do bico de pena, que me fascinava mais do que a aquarela daqueles artistas estrangeiros do século XIX. 


Autodidata, como eu, Percy Lau, com seus conceitos e pontos de vista próprios, desenvolveu uma carreira de sucesso nacional. Nasceu em Arequipa, Peru, em 16 de outubro de 1903, filho caçula de Bruno Law e Sofia Schon Law, cultivadores de cana-de-açúcar. Após sofrer um acidente na escada de sua casa, que afetou sua coluna vertebral, a família viajou para a Alemanha, terra de seus ancestrais, em busca de tratamento para o garoto, que é interrompido devido ao início da I Guerra Mundial. Foram para os Estados Unidos, mas por dificuldades financeiras chegaram ao Brasil em 1921, fixando residência em Olinda-PE. A adaptação do menino foi tão imediata que aprendeu o português com facilidade e sem sotaque, e o Law virou Lau. A natureza do lugar motivou os primeiros traços, surgindo os desenhos de coqueirais e mocambos com seus tipos humanos da região. Esses trabalhos (em grafite, nanquim e aquarela) estavam na primeira Exposição de Belas Artes de Pernambuco.

Em 1933 se associa a Augusto Rodrigues para criar um atelier comercial, criando trabalhos decorativos para restaurantes, formaturas, publicidade, letreiros artísticos, tabuletas, anúncios luminosos, retratos a óleo, etc. Em pouco tempo o lugar se tornou um ponto de encontro da sociedade cultural local. Segundo Augusto Rodrigues: “Trabalhávamos o dia inteiro e nos reuníamos à noite em torno de uma mesa ou no atelier para desenhar. O Percy Lau tinha parentes na Alemanha e recebia de lá uma quantidade muito grande de livros e revistas. Assim, tomamos conhecimento do movimento expressionista alemão. Recebíamos reproduções e revistas do Rio. Lembro-me de uma revista que se chamava Base, em que havia reproduções de Guignard, Di Cavalcanti, Portinari, e tivemos conhecimento também do Fujita”. Nesse tempo começa um namoro com Ismênia, vizinha do atelier. Trabalha no Diário de Pernambuco fazendo pequenas ilustrações. 


Em 1938 se muda para o Rio de Janeiro, trabalhando durante um ano para a Central do Brasil confeccionando maquetes para gares ferroviárias. Conhece e se relaciona com grandes nomes da arte brasileira como Di Cavalcanti, Guignard, Pancetti, Heitor dos Prazeres, entre muitos outros, estimulando seu ingresso no Liceu de Artes e Ofícios para estudar gravura, tendo assim um estudo sistemático da arte pela primeira vez. Volta ao Recife no ano seguinte e, depois de casar com Ismênia, retorna ao Rio. Recebe convite para integrar a equipe de desenhista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que ilustrava a série Tipos e Aspectos do Brasil da Revista Brasileira de Geografia (RBG), permanecendo aí até os últimos dias de sua vida.

Com sua aposentadoria do IBGE em 1967, chega ao fim sua fase de pontilhados à nanquim e surge o pintor cinquentão à mão livre, com composições líricas de paisagens do Rio de Janeiro, mulheres na praia e nus femininos. Em 12 de janeiro de 1972 morre de um mal cardíaco, depois de um período de internamento, interrompendo essa breve fase de pintor e encerrando a carreira de maior documentarista/artista, que dividiu com o gaúcho José Wasth Rodrigues e o paulista José Lanzellotti.




































01 outubro 2012

Refazendo

Quem possui a primeira edição desta revista (publicada em 1993), verá alterações nos desenhos e a inclusão de novas páginas, para dar mais dinâmica à linguagem dos quadrinhos, prejudicada principalmente na segunda parte da primeira edição. Para aqueles que estão chegando agora, selecionamos alguns quadros e páginas com o objetivo de melhorar o entendimento sobre o que foi feito e aprimorar o trabalho.
A história completa está na página HQ Círio deste blog.



  Neste terceiro quadro da página 15 a anatomia dos pescadores e os detalhes do escaler foram refeitos.

No quarto quadrinho da página 2O que as figuras da procissão sofreram acréscimo e maior detalhamento, assim como na praia e nos barcos ao fundo.

Aqui vemos um exemplo do desdobramento de uma página em duas, para tornar a leitura mais leve, com uma distribuição harmoniosa dos quadrinhos.


 
 Mais um exemplo do desdobramento de páginas. Podemos observar que nem sempre o esboço se mantém na finalização.


 
Neste caso, o excesso de texto tornou a página mais um texto-ilustrado do que propriamente uma página de quadrinhos. É visível a melhora no resultado final.


 
 
 
Outro caso de página de difícil leitura, que acabou descaracterizando a agilidade e objetividade da linguagem dos quadrinhos.Sua transformação em duas páginas recobrou essa característica fundamental na leitura de HQ.
Esperamos que esses exemplos possam servir tanto para quem é leitor de quadrinhos, quanto aos que se iniciam pelas veredas desta arte singular.